Fundos de capital protegido

Produto garante devolução integral do capital aplicado, em caso de queda da bolsa de valores - Por Márcio Juliboni

Nos últimos meses, a forte volatilidade do mercado corroeu os ganhos e a disposição de muitos investidores para aplicar na bolsa de valores. Mas é possível apostar em ações com risco zero, ou seja, sem perder dinheiro.


Um meio são os fundos de capital protegido. A maioria deles garante a devolução integral dos recursos aplicados no caso de queda da bolsa. Alguns devolvem um pouco menos – cerca de 95% do investido originalmente. Diversos bancos lançaram fundos desse tipo neste ano, como alternativa a quem deseja continuar investindo em ações, mas não quer ver seu capital evaporar. “Esses fundos são ideais para momentos de grande volatilidade”, afirma Valéria Fontes, gerente de produtos da HSBC Global Asset Management.

Garantir a devolução do capital investido é uma forma de reduzir risco. E toda aplicação menos arriscada vem atrelada a uma possibilidade de ganho menor. Por isso, a segunda característica desses fundos é que o aplicador obtém o ganho integral da bolsa – ou de alguma ação na qual o gestor invista – até certo percentual. Acima deste limite, o fundo devolve o dinheiro corrigido apenas por uma taxa pré-fixada. Por exemplo, um fundo protegido pode oferecer 100% do retorno do Ibovespa (principal indicador da bolsa paulista) até o limite de 35% de alta do índice. Acima disso, o investidor receberá 105% do CDI. Nesse cenário, se o Ibovespa acumular uma alta de 20% no período do investimento, o patrimônio do aplicador subirá 20%. Mas, se houver uma disparada de 50%, o investidor receberá apenas 105% do CDI.

É por isso que os gestores afirmam que esse produto é uma aplicação conservadora, indicada para pessoas que desejam diversificar seu portfólio sem correr muitos riscos.


“Recomendamos que o investidor aplique apenas a fatia de seu patrimônio que já estava reservada para a renda variável”, afirma Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais do asset management do ABN Amro Real.

Como funciona

Os fundos protegidos são do tipo fechado, isto é, têm uma fase de captação de recursos por meio da venda de cotas, após a qual não são aceitos novos investidores. Quem perdeu a captação deve esperar até que o banco lance um novo fundo. Na maioria deles, os cotistas não podem resgatar o dinheiro antes do vencimento – um prazo que varia de 12 a 18 meses. Alguns produtos permitem o resgate antecipado, desde que o investidor abra mão de parte dos ganhos acumulados no período. Isto pode ser uma desvantagem em relação a outras modalidades de fundos, que garantem liquidez diária – isto é, o cliente pode sair da aplicação a qualquer momento.

Para blindar o investimento e assegurar o capital inicial, o dinheiro captado é dividido em duas partes. Cerca de 80% a 90% do montante é aplicado em títulos públicos pré-fixados. Papéis pós-fixados também podem entrar no portfólio, mas, nesse caso, geralmente os gestores os trocam por outros pré-fixados (no jargão do mercado, essa troca se chama swap). Os gestores escolhem um título cuja remuneração seja suficiente para, na data do resgate do fundo, recompor os 100% do patrimônio original dos investidores. São esses papéis que asseguram que, se tudo der errado na bolsa de valores, os clientes terão seu capital inicial devolvido integralmente.

O restante do dinheiro é investido em renda variável – mais especificamente, no mercado de derivativos. O instrumento preferido dos gestores, nesse mercado, são as opções de ações ou de índices da bolsa. De acordo com o cenário esperado para a bolsa, os fundos montam várias estratégias de investimento com opções. Mas a base de todas elas é garantir que a alta das ações ou do Ibovespa seja integralmente repassada para o aplicador, até dado limite. O gestor escolhe, então, opções que sejam capazes de multiplicar o dinheiro de tal modo que, ao final, seu rateio seja suficiente para garantir o retorno prometido a todos.

Algumas estratégias com opções podem garantir ganhos para o aplicador inclusive em cenários de queda da bolsa. Por isso, fundos que as adotam oferecem uma remuneração positiva ao cliente, mesmo no caso de baixa do Ibovespa. É o caso do Real Capital Protegido Van Gogh, atualmente em fase de captação de recursos pelo ABN Amro Real. Esse produto vai assegurar ao aplicador a variação positiva equivalente à queda do Ibovespa até o limite de 20%.

Riscos

De acordo com a Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), até 22 de agosto (dados mais atualizados), os fundos protegidos acumulavam um ganho de 0,92% neste ano. No mesmo período, os fundos atrelados ao Ibovespa perderam 12,22%. Estes números mostram a função de um fundo protegido em tempos de forte queda da bolsa – o de proteger o patrimônio do investidor.

Por outro lado, os fundos de renda fixa acumularam alta de 7,93%. Este, segundo os gestores, é o risco do fundo protegido. Receber, daqui 15 meses, a mesma quantia equivale a dizer que o dinheiro “ficou parado”, isto é, não rendeu nada. Nesse meio tempo, ele foi corroído pela inflação e, além disso, perdeu a chance de gerar remuneração se fosse aplicado em outro produto – como um fundo de renda fixa. “Na prática, o risco desses fundos é o chamado custo de oportunidade”, afirma Marcelo de Jesus, gerente nacional de fundos de renda variável da Caixa Econômica Federal.

Vários fundos protegidos foram lançados pelos bancos nos últimos meses. Alguns são abertos apenas a investidores qualificados – aqueles com uma carteira superior a 300.000 reais. Outros estão ao alcance do mercado de varejo. Mas, mesmo nesse caso, a aplicação mínima, representada pelo valor da cota, costuma ser alta – na média, 10.000 reais. Quem entra nessa aplicação precisa decidir se aceita correr o risco de não ganhar nada (mas ter o capital inicial devolvido) no resgate do fundo, em troca de um ganho na bolsa, ou aplicar o dinheiro em outro lugar.

Os fundos protegidos têm alíquota decrescente de Imposto de Renda, por isso, quanto maior o prazo para o resgate, menor será a mordida do Leão. A taxa de administração é semelhante à de um multimercado – cerca de 2% ao ano.

Tendência

Os fundos protegidos foram regulamentados em 2002, mas não se desenvolveram nos últimos anos devido ao otimismo com a Bovespa. Diante das sucessivas altas, os investidores não temiam perder dinheiro e, por isso, não pensavam em protegê-lo. Mas, com a turbulência das ações desde meados do ano passado, os bancos entenderam que havia espaço para o produto. O patrimônio total dos fundos protegidos é de 3 bilhões de reais, pouco, se comparados aos 1,2 trilhão de reais administrados pela indústria de fundos, mas com uma tendência de alta.

Desde 2007, o HSBC já lançou seis fundos protegidos, batizados de Smart. Para se ter uma idéia da demanda, o primeiro fundo captou 51 milhões de reais. O último, 145 milhões. Os fundos oferecem a rentabilidade integral do Ibovespa até uma alta de 35%. Acima desse limite, o retorno é representado por 110% do CDI. Os prazos variam de 15 a 18 meses. “Estudamos lançar mais um fundo até o final do ano”, afirma Valéria Fontes, gerente de produtos da HSBC Global Asset Management.

A Caixa lançou dois fundos neste ano: Capital Protegido 1 e 2, em maio e julho, respectivamente. O primeiro captou 100 milhões de reais e o segundo, 84 milhões. Em comum, eles oferecem remuneração integral do Ibovespa até um limite de 50% de alta. Acima disso, o Capital 1 devolverá 101% do CDI, e o Capital 2, 106% do CDI. É possível que um novo fundo seja aberto até o final do ano, diz Marcelo de Jesus, gerente nacional de fundos de renda variável do banco.

Além do fundo que está aberto para captação, o ABN Amro Real já lançou dois neste ano, que totalizaram 120 milhões de reais. O primeiro, em fevereiro, garante remuneração integral até uma alta de 35% do Ibovespa, e ganho de 128% do CDI acima disso. O segundo, montado em abril, oferece ganho integral até 40% do Ibovespa e 120% do CDI acima do limite. Além disso, se o Ibovespa cair até 20%, o investidor receberá a remuneração equivalente. Um quarto fundo deve ser lançado até o final do ano.

Segundo Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais do asset management do ABN Amro Real, uma prova de que o produto é adequado para o momento é o interesse que atraiu de diversos tipos de investidores. Houve quem migrasse de uma carteira ou fundo de ações para o fundo protegido, e aqueles que deixaram a renda fixa rumo a ele. “É um modo de continuar na bolsa, mas resguardando seu capital”, afirma Mosca.

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