Estratégias: assumindo nossas fraquezas

Assistimos durante o ano de 2003 um forte crescimento da Bolsa em todos os sentidos. Entrada agressiva de capital estrangeiro, uma valorização de quase 100% no ano e o aumento considerável de pessoas físicas investindo e operando. O problema é o último ponto. Não vou me sustentar em dados, mas foi perceptível que a "grande massa" entrou no final do ano passado, ou seja, no fim da grande alta. Mas qual o problema disso? Entrada de novos participantes é muito bom, o interesse em investir no Mercado de Capitais também, mas gostaria de passar alguns pontos que considero relevantes e que agora ficam mais compreensíveis.



O primeiro ponto que vejo é o fato de a maioria ter chegado atrasada na Bolsa. Muitos chegaram ansiosos depois de várias e várias reportagens em todos os jornais quase diariamente falando da fantástica valorização da Bolsa, de como é fácil investir, etc etc.. O porém é que só lembram de falar da Bolsa quando está em franca tendência de alta - ainda mais: comentam no final da alta!
Mas por quê as pessoas entram na Bolsa simplesmente por emoção, impulso, sem ao menos ter definido uma estratégia mínima para seus investimentos?

E o engraçado é que com duas semanas de operação, muitos já falam para os amigos que são " traders " e que já ganham mais que o próprio salário. Ok, não é proibido investir ou especular, nem ser um " trader " em duas semanas. O problema disso tudo é que as coisas são feitas sem estratégias. E quando falo de estratégias, é isso mesmo, quase como uma estratégia de guerra.

A meu ver, primeiro referencial que um investidor deve ter é o seu retorno relacionado a outro retorno livre-de-risco - considero livre-de-risco papéis soberanos emitidos pelo governo, rendendo taxa de juros ou taxa fixa, etc.


Vou pegar o exemplo do CDI: aposto que muitos dos que entraram há seis meses na Bolsa não conseguiram sustentar pelo menos uma média de valorização de 300% do CDI. E se você está em um mercado de alto risco, o mínimo que se poderia esperar seria isso, senão, outras formas de investimento muito menos arriscadas deverão ser consideradas.

Segundo ponto é a definição clara de estratégias de operação. Essa eu considero a parte mais complicada e delicada, pois aqui me incluo, apesar de ter progredido muito ultimamente - estou no mercado a cerca de um ano e meio.

É uma regra básica e simples: relação Risco/Retorno. Se você está arriscando seu capital na Bolsa, o que se espera é que tenha um retorno que considere o risco envolvido. Mas como sistematizar tudo isso? Bom, vou partir do pressuposto que o investidor conhece e usa disciplinadamente estratégias de stops . Por exemplo: faz uma compra de um papel X a 6,50 e imediatamente coloca stop a 5,45. Ok, até aí tudo bem, considerando que sabe o motivo de estar comprando a esse preço e colocando stop nesse nível. Mas aí a ação sobe 3% em dois dias e ele pensa: - Ótimo, 3% em dois dias! Vai lá e encerra a operação.

O que há de errado nisso? Ele não ganhou dinheiro? Sim, embora o problema tenha sido a estratégia de Risco/Retorno que ficou praticamente 3 para um 1, ou seja, arriscou 3% do seu capital para ganhar apenas 1%, considerando que se batesse no stop seria vendido (há outros riscos de ordem técnica que não entrarei em detalhes). E isso sob uma ótica de risco é péssimo. Além do mais, existe estudo comprovando que o ser humano tende a relaxar em um momento de prejuízo, sempre pensando que vai subir e acaba se agarrando na posição perdedora, e por fim ainda realizando o lucro cedo demais. Isso é uma atitude normal, mas que deve ser corrigida.

Por fim, aos que não estavam bem preparados e nesse início de ano não se deram bem pelas grandes oscilações, só recomendo uma coisa: estude, estude muito e, acima de tudo, desenvolva estratégias tanto para os momentos felizes quanto os tristes. Estes sempre existirão. Não adianta ficar com raiva do mercado, pois foi sempre assim que funcionou e assim será. Basta ser disciplinado e não levar a "coisa" como uma brincadeira, pois isso envolve dinheiro, às vezes muito dinheiro e tenho certeza que ele não é conseguido de graça ou com pouco esforço. Valorize seu dinheiro, cuide-o e ele cuidará de você em dobro.

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